Se
observarmos bem, grande parte de nossa vida é sustentada por
crenças(quase um ato de fé) ou atitudes injustificáveis. Inúmeras vezes
durante os dias somos tomados pelo embalo de atitudes que dispensam
explicações. Nós nos comportamos irracionalmente todos os dias com
nossos pais, filhos, amigos e com uma porção de gente em quem
acreditamos, sem dar explicações. Como se a vida exigisse de nós mais
atos de confiança, de crenças, do que de razão. Nem tudo, minha gente,
precisa ou reclama explicações. Na vida, raríssimas vezes necessitamos
justificar nossas escolhas ou preferências. Há momentos na vida que não
cabem justificativas e, por isso mesmo, ela flui com mais naturalidade.
Não tem
cabimento querermos racionalizar tudo, até porque há mais arte na vida
do que motivos para agir assim ou “assado”. O viver, inevitavelmente, me
abre a possibilidade do inusitado, do inesperado e do inexplicável. Os
comportamentos individuais ou coletivos estão impregnados de
contradições racionais, o que demonstra mais ainda, por parte de nós,
uma cadência no aceitar o outro como ele é. O campo de nossas escolhas
no que diz respeito aos amores, à Religião, ao futebol, à música, aos
valores, à moral e assim por diante, à vida, está repleto de crenças
injustificáveis que beiram à fé, uma vez que, sem a qual, não seríamos
capazes de dar um passo na existência.
Seria
muito ingênuo da minha parte se todo mundo pensasse de acordo com a
razão! Os pais amassem os filhos certos; os avós se apegassem aos netos
certos; os irmãos não preferissem uns a outros; se não encobríssemos os
erros de nossos parentes; se não tratássemos as pessoas diferenciadas;
se não nos revoltássemos por causas erradas. Essas atitudes estão na
linha das paixões e da arte, pois quanto menos explicações melhor para
viver.
Imagine
se um eleitor, apaixonado por seu partido político e por seu candidato,
tivesse que explicar as razões por que vota nele?! Talvez, não votasse
mais. Porém, a política, tal como arte e a Religião, não é assim. Há
eleitores que dão à vida por seus candidatos, mesmo sendo eles injustos,
desonestos e corruptos. “Voto nele e pronto, não quero nem saber”. É
costume ouvirmos expressões do tipo: “Admiro Picasso e pronto, gosto de
suas pinturas”; “Sei que faz mal, me prejudica, mas gosto de fumar”; “Só
ouço forró e pronto”; “Tá na 2ª divisão do brasileiro, não ganha uma
partida, mas gosto desse time”; “Sou apaixonado por ele, não importa o
que digam”; “Amo meu filho, só eu posso falar dele, não admito que
outros falem”; “Amo meu pai e não importa o que digam dele”.
Expressões como essas mostram muito bem que não é toda hora que a vida precisa de “porquê”. “Porquê” tem hora, não cabe em todo lugar, nem com todo mundo, nem a todo o instante. Não importa o que digam, mas continuamos com nossos bem-quereres, com nossas preferências, é do puro gostar, mesmo que estranhamente, optamos sempre pelo que nos agrada e não pelo que é certo ou errado. É da natureza da vida a contradição racional, uma vez que não é a razão e sim a arte; não é a explicação e sim a empatia que movem a vida.
Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva
Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia e Especialista em Metafísica.
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