“Quando é verdadeira, quando nasce da
necessidade de dizer, a voz humana não encontra quem a detenha... Porque todos,
todos, temos algo a dizer aos outros, alguma coisa, alguma palavra que merece
ser celebrada ou perdoada pelos demais”. (Eduardo Galeano, Livro dos Abraços,
LPM)
O controle social das políticas públicas e sobre atos
políticos e administrativos ainda é um passo a ser dado para o aperfeiçoamento
da democracia. Em tempos de avançadas tecnologias, os portais de transparência
são uma tímida tentativa de tornar transparente a forma como o dinheiro público
é destinado e aplicado. Disponibilizar informações sobre as estruturas públicas
não é suficiente para superar a apatia e o descrédito da população na política.
Somente com instrumentos de participação direta nas decisões sobre as políticas
e investimentos apontaremos para uma democracia participativa, superando os
problemas e vícios da democracia representativa.
Quem dentre nós, sinceramente, ainda tem tesão para
participar e envolver-se na política atual? Por que a política nos distanciou
tanto da vida cotidiana, das necessidades de nossa gente? Por que em nossas
escolas tememos falar de política, mesmo que educação nunca seja neutra?
Dos servidores públicos, efetivos ou de confiança dos
políticos eleitos, a comunidade não espera que somente “batam ponto”. A
comunidade espera que também despertem da apatia, prestando serviços e
assistência que promovam a cidadania. Não serve a ninguém tanta decepção e descrença
na política se é justamente ela que decide sobre a nossa qualidade de vida e
nossa cidadania.
O fenômeno da apatia política não é recente não. No
ano de 1917, num pequeno texto, Os
indiferentes, Antonio Gramsci descreve que a indiferença “é abulia, é parasitismo, é covardia, não é
vida”. E complementa dizendo que “não
podem existir os apenas homens, os estranhos à cidade. Quem verdadeiramente
vive não pode deixar de ser cidadão e partidário.O que acontece não acontece
tanto porque alguns o queiram, mas porque a massa dos homens abdica de sua
vontade, deixa fazer, deixa enrolarem os nós que, depois, só a espada poderá
cortar; deixa promulgar leis que, depois, só a revolta pode anular; deixa subir
ao poder homens que, depois, só uma sublevação poderá derrubar”.
Como cidadãos modernos e apáticos, transformamos
democracia em ritual: o voto. A cada dois anos, somos consultados nas urnas
sobre o rumo que os nossos governantes dão ao nosso município, ao nosso estado
ou ao nosso país. Dissemos, então, se queremos que os rumos da política mudem
ou permaneçam como estão. Mas de qual política? Da política do bem-comum ou a
política dos interesses da classe política?
Muitos já se cansaram de participar assim,
esporadicamente. Cansaram, também, de assistir a teatros e encenações dos
políticos pela televisão. Cansaram de ouvir discussões inócuas e oportunistas
da situação ou da oposição. E não são oposição nem situação, são cidadãos e
cidadãs, desejosos de participação.
Esta tal indiferença é um fardo que não precisamos
carregar. A democracia que queremos deve estar alicerçada no controle social,
no debate democrático, no respeito aos direitos humanos e na liberdade de cada
um organizar e reclamar as suas demandas de cidadania. Será esta democracia
moderna demais?
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